Por Afonso Braga – Professor do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT)
A engenharia brasileira está passando por uma das transformações mais significativas de sua história. O engenheiro do século XXI já não se limita a desenhar estruturas ou otimizar processos industriais. Hoje, ele é um empreendedor de ideias e soluções, alguém que une conhecimento técnico, sensibilidade social e visão de mercado para criar negócios inovadores, sustentáveis e escaláveis, para um novo empreendimento ou dentro de uma organização estabelecida, o conceito do intraempreendedorismo. Essa virada de chave não é casual. Ela acompanha o crescimento do empreendedorismo como força econômica no País. O estudo Global Entrepreneurship Monitor (GEM 2024) aponta que 33,4% da população adulta brasileira está envolvida em atividades empreendedoras, cerca de 47 milhões de pessoas, um recorde histórico. O Brasil ocupa a 6ª posição mundial em número de empreendedores consolidados, e apenas no primeiro trimestre de 2025 foram formalizadas 1,4 milhão de novas empresas, sendo 78% microempreendedores individuais (MEIs). Esses números revelam não apenas a vitalidade do ecossistema, mas também uma mudança cultural: empreender virou uma resposta prática às transformações do mercado e da economia na busca por soluções a tanta mudança que está ao nosso redor.
Engenharia e empreendedorismo: convergência inevitável
A engenharia, historicamente ligada à inovação, encontra agora um ambiente fértil para criar negócios de impacto. Energias renováveis, inteligência artificial, biotecnologia e startups de base tecnológica são hoje os novos canteiros de obras do engenheiro. O Brasil, que gera quase 90% de sua eletricidade a partir de fontes renováveis, se consolida como terreno propício para empreendedores que buscam unir tecnologia e sustentabilidade, e engenheiros estão na linha de frente dessa revolução.
Ao mesmo tempo, a Indústria 4.0 avança de forma consistente. Segundo dados recentes, 86% das grandes empresas, 64% das médias e 42% das pequenas já utilizam tecnologias como machine learning, IoT e automação. Esse movimento abre espaço para que engenheiras e engenheiros assumam papéis estratégicos, liderando startups, spin-offs corporativas e projetos de inovação aberta. O Plano Nacional de Inteligência Artificial, que prevê investimentos até 2028, fortalece ainda mais esse ecossistema, preparando o terreno para o engenheiro empreendedor.
O novo perfil profissional: criar é o verbo da engenharia
Nesse cenário, o ensino superior tem papel central. Formar engenheiras e engenheiros para o futuro significa oferecer muito mais do que sólida base técnica, é preciso ensinar a pensar como empreendedores e inovadores. Isso envolve metodologias ativas, projetos interdisciplinares, laboratórios de prototipagem, incubadoras e conexões diretas com empresas e startups.
Acredito que “aprender fazendo” é a melhor forma de preparar profissionais para um mercado em transformação. O engenheiro precisa dominar algoritmos, mas também compreender modelos de negócio, liderar equipes multidisciplinares e traduzir tecnologia em valor econômico e social.
O engenheiro do futuro será, inevitavelmente, um empreendedor. Sua missão não será apenas resolver problemas, mas identificar oportunidades onde os outros veem incertezas. Ele será o elo entre o conhecimento técnico e o propósito de inovar com impacto. Em um mundo movido por dados, sustentabilidade e criatividade, o maior diferencial não estará em calcular, e sim em criar soluções para problemas cada vez mais complexos.
Empreender, afinal, é o ato mais genuíno de engenharia: projetar o futuro e construí-lo com as próprias mãos.